sábado, 27 de janeiro de 2018

Ansiedades pequenas e meu medo da reciprocidade

Eu li, em algum lugar, alguma vez, que a melhor coisa que poderia acontecer com alguém é ser amado por um artista, e vale dizer que eu nunca me considerei uma artista, não até uns meses atrás. Tá, eu tenho umas características bonitas e gosto de coisas que me fazem ver o mundo de outras formas, mas artista? Convenhamos que é bem isso mesmo que artista faz, mas assumir isso para mim mesma é uma pegada que eu posso tentar entrar algum outro dia.

Voltando.

Lembro que no texto - sobre ser amado por um artista - é apontado várias coisas fofas que fazem os artistas serem considerados artistas - coisas como declarações de várias formas, através de rimas, personagens, histórias e qualquer outra coisa que eu não consigo pensar no momento -, mas que eu chamaria de declarações, e nada mais. Não acho coisa de "pessoas do mundo da arte" ser sincera com você mesmo e expor tudo aquilo que vaza dentro de você, sabe. Acho bonito, muito bonito e só.

Até eu parar para pensar.

Não sei exatamente de onde vem essa minha luz, que não é bem uma luz, que me faz amar em excesso. Sempre considerei, e ainda considero, qualquer tipo de excesso um problema, então por que o amar em excesso não seria? Eu me apaixono. Por coisas, pessoas, animais, estados mentais, personagens de série, vilões da TV, e não que tenha um problema nisso em si, porque eu não acho que tenha, mas quando a coisa vira recíproca... Eu meio que não acredito mais.

(Se você está criando expectativas, descrie-as. Talvez isso não chegue a lugar nenhum.)

Por meses eu me vi em uma situação onde me coloquei como vilã, mesmo sem ter total certeza sobre aquilo que minha cabeça criava, mas hoje nada tira esse título de mim, por mais que eu tente, por mais que eu queira. Eu crio histórias e crônicas sobre pessoas que deixam o meu dia melhor, mas assumir que eu ajudo a melhorar dias de outros é praticamente impossível. Assumir que nem toda reciprocidade termina em irresponsabilidade emocional é tão difícil quanto correr sem fones de ouvido - isso porque eu não corro mais. 

Mesmo sem querer, eu sempre associo responsabilidade emocional com reciprocidade e ansiedades pequenas. Para mim, elas estão ligadas. Para mim, uma não existe sem a outra, mas, para agora, eu estou burlando o meu sistema para justificar conversas sobre ansiedades pequenas, mesmo quando elas estão claras. Me sinto uma criança com chocolate na cara, dizendo "Juro, mãe. Eu não comi o bolo".

Talvez eu precise reaprender a permitir. Por tanto tempo eu treinei o "não" que eu não sei mais cogitar uma provável resposta positiva, porque, nesse momento, eu continuo fugindo. Fugindo de alguém, fugindo de mim, fugindo do lado artista que já se inspira só de pensar em possibilidades de conversas que duram horas, daquelas que o tempo acaba virando um cretino por correr mais rápido do que o normal. 

Talvez eu precise reaprender que tudo bem ser artista. 

Talvez eu precise reaprender a tirar meus filtros, mesmo sendo muitos.

Talvez eu precise entender que tudo bem gostar.

E eu gosto.


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