Minhas mãos
suam, meu estômago revira, meu corpo treme. As ânsias são incontáveis, na mesma proporção que caixas de traumas são
abertas e espalhadas pela minha cabeça. Eu perco a noção do tempo, das horas,
das dores, das tonturas e a única coisa que se mantém firme na minha cabeça é a
vontade que tudo isso acabe, independente da forma, da solução, do que fazer.
Eu repito a
pergunta, ofegante:
- O que
você...Quer de mim?
Se ela fosse uma
pessoa, ela estaria na minha frente, rindo, satisfeita. Objetivo alcançado. De novo.
- O que você
quiser me dar.
Desespero,
raiva, descontrole, corpo aos prantos.
- Eu nunca quis
te dar nada.
- Mas você deu.
- Eu não d...
- Seu sono, sua fome,
seu sexo, sua tranquilidade, seu auto-controle, suas paixões, seus sonhos, sua saúde. Me fala, o que mais você
pode me dar?
Eu não tenho
mais o que entregar. Me tornei um poço de medo e frustração dentro de um corpo vazio e um falso amor próprio. E em
nenhum momento eu me lembro de ter entregado
tudo isso, mas eu não tenho mais o controle de nada disso. Sinto que eu não me controlo mais.
- Como eu
cheguei aqui?
- O que você
quer saber?
- Quero saber
como eu perdi o controle disso tudo, quero saber quando eu deixei de ser isso tudo, de ter isso tudo.
Eu crio a sua
imagem dentro da minha cabeça. Eu te vejo como uma mulher egoísta, arrogante, egocêntrica e poderosa. Você
entra no meu quarto e senta de frente para mim,
na minha cama. Se eu me esforçasse um pouco mais, eu poderia me ver
totalmente destruída, cabelo bagunçado,
50 quilos, unhas roídas, calça de moletom rasgada e viciada em remédios que eu não consegui identificar.
- Você foi
desistindo, aos poucos, de tudo.
- Como...?
- Eu sempre
existi dentro de você, eu só era menor. Eu aparecia antes de viagens e quando você ficava doente, você lembra? No
final das contas, você sempre ganhava. No final
das contas, eu sempre voltava para um lugar menor dentro de você. Mas, um dia, você simplesmente me deixou pegar um lugar
maior, e disse que tudo bem. Você me alimentava,
me fez ser grande e importante. Você me fez assim. Eu sou sua criação.
- Não é tão
simples...
Você ri. Seu
riso exala uma arrogância que eu senti que eu já tive, mas não sei mais onde está.
- Sim, é
simples. E eu só fico menor se você quiser.
- Eu quero que
você fique menor!
- Não sou um
gênio da lâmpada que te concede desejos, gata. Você não consegue mais me diminuir. Eu sou muito maior que você,
muito mais forte que você. Você se convenceu que precisa de mim e só você pode
se convencer do contrário, apesar de não conseguir.
- Como você sabe
que eu não consigo?
- E você
consegue?
Arrogante.
- Eu posso
conseguir...
- Eu cresci por
8 anos dentro de você e você realmente acha que em meses eu vou voltar para uma caixa no canto da sala? - Você ri e
pisca para mim - Você não vive mais, você respira e se satisfaz gastando seu
tempo em histórias que você não escreve mais. Eu sei o que você pensa sobre seu relacionamento, mesmo amando seu
noivo. Eu sei das suas culpas, eu sei
dos seus medos, dos seus bloqueios, dos seus pensamentos. Eu sei de tudo, principalmente quando você quer
desistir.
- Eu não
quero...
- Sim, você
quer. Pode ser questão de tempo, mas você quer. Você quer que passe, independente da forma, lembra?
Eu não sei onde
eu perdi o controle, mas a ansiedade não para de ganhar.
- Eu não sou só
você...
- Hoje, sim. Eu
sou tudo em você.
- Eu sou mais do
que você...
- Será?
- Eu preciso de
tempo...
- Pegue o tempo
que quiser que eu espero aqui. Você sempre volta.
Peguei uma
blusa, um MP4 e uma colher de esperança. É tudo que sobrou nesse momento e,
mesmo assim, ela não se mexeu. Continua me olhando com olhar arrogante, sabendo que talvez tenha razão. Talvez. Saí
do quarto sem olhar para trás. Não sei quanto
tempo vai durar essa colher de esperança, não sei se ela é real, não sei das próximas recaídas, não sei dos próximos
dias. Eu só quero que passe, que mude, que melhore.
Porque eu não
quero mais voltar.
*
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